terça-feira, 16 de junho de 2009

Cubatão 20000000....

Devo minha vida a Cubatão. Não só eu, minha família toda. Sou filho de operário da Petrobras. Sr. Luiz sustentou a família passando festas de fim de ano em cima dos tanques de operação, trabalhando de turno, longe da família, dos amigos, ele e o tanque, o tanque e ele. Respirando o pior ar do Brasil em meados de 70 deixou por lá parte da audição, mas seguiu firme e forte. Certa vez confidenciou-me que quase ficara igual ao Lula, pois sua aliança ficara presa numa peça. Deu sorte que o dedo ficou, mas a alinça não... Pelo menos é essa história que ele conta para a minha mãe sobre o paradeiro da dita cuja...

Mas hoje o assunto é Cubatão. Faz um tempo que este que vos escreve não pinta por lá, mas sempre quando se depara com alguma notícia de lá, a vontade que emana é de não voltar mais. É que Cubatão me faz lembrar o país em que vivemos, não aquele que sonhamos... Em 2006 saiu relatório final da Agenda 21 com os pleitos da população de Cubatão e com as propostas para a Cubatão em que os cubatenses sonham. O problema é que esqueceram de avisar os governantes, pois agoram criaram uma comissão para avaliar o relatório com o plano de governo atual. Muitos sonham, mas quem realizam os sonhos são os "poucos" (notem a o significado da palavra) e estes poucos não realizam o sonhos que os muitos projetaram, realizam os sonhos deles mesmos, só deles...

Abaixo, reproduzo uma matéria que fiz para o Jornal da Orla em 2006. É velha, mas acho que ainda está bem atual...

Zanzalá que eu olho aqui
Até 2020, Agenda 21 visa acabar com áreas desordenadas
Daniel Nakajima

Quem dera Cubatão fosse a Zanzalá de 2029, onde grandes avenidas cruzavam a cidade. Na futurística Cubatão imaginada por Afonso Schmidt, grandes vias, televisores e viagens interplanetárias se misturavam em meio à multidão. A terra do escritor cubatense, que fora no passado “apenas uma estrada, com seus bambuais e seu velho chafariz”, hoje abriga mais de 50% da população em áreas desordenadas.
Como resolver essa questão? Esse parece ser o desafio da Agenda 21. Em coletiva realizada na última semana, a ocupação desordenada foi o assunto mais abordado por representantes do evento. O 2º Seminário Temático que terá início dia 18 de abril discutirá, entre os 1.200 conselheiros, mais de 15 temas ligados à sociedade. As questões debatidas deverão ser resolvidas com propostas elaboradas por pessoas da comunidade, com estabelecimento de metas e prazos de cumprimento. Todo esse esforço engloba a Cubatão 2020, A Cidade que Queremos.
O Vale da Vida terá que dispor de muito fôlego até 2020. A cidade, que outrora se livrara de tantos pesadelos como a poluição, atualmente não depende apenas do empenho industrial para solucionar seus problemas. “É um projeto que irá mobilizar a sociedade em todos os segmentos”, analisa o consultor da Agenda 21, Júlio Mourão.
E realmente algo deve ser feito. Cubatão assusta quando os números falam por si. Este ano, segundo a prefeitura, mais de 50 mil pessoas estarão vivendo em áreas de risco, seja em palafitas, encostas ou favelas. Dos quase 110 mil cubatenses, 60% não possuem água potável. Na área da saúde, alguns resquícios do antigo Vale da Morte ainda assombram a população. Cubatão apresenta o maior coeficiente de incidência de tuberculose do estado (126 casos por 100 mil habitantes). “Justamente é esse o propósito da Agenda 21. Colocar o dedo na ferida. Ouvir a comunidade, debater projetos e encontrar a melhor solução”, afirma o diretor da Ciesp e secretário executivo da Agenda 21, Marco Paulo Penna Cabral.
É difícil imaginar uma cidade com um PIB de aproximadamente R$ 4,5 bilhões e uma renda per capita de R$ 40.337,00 conviver com tanta pobreza. No maior pólo industrial da Baixada Santista, apenas 19% da população usufrui os mais de 26 mil postos de trabalho gerados diretamente. Talvez por isso o índice de desemprego em Cubatão tenha batido os 12%, três a mais que a média nacional (9%). Nesse aspecto, a cidade se configura em subempregos e trabalhos informais. Uma das propostas da Agenda 21 é regularizar o Shopping da Comunidade, colocando um dedo maior na ferida que não pára de crescer. “Esse projeto é muito polêmico. Ali, há anos estão instalados muitos comerciantes. A regularização assegurará a permanência deles no local?”, questiona o presidente da Câmara Municipal de Cubatão, Geraldo Cardoso Guedes.
Outro ponto a ser destacado é o alto índice de reprovação verificado no Ensino Fundamental. Mais de 25% na 1ª, 5ª, 6ª e 7ª série. Programas como o Poronga, que utiliza a experiência e os materiais do Telecurso 2000 são alternativas viáveis e que obtiveram resultados expressivos no Acre e no Sergipe. Porém, a cidade padece de um mal que acomete os quase seis mil municípios brasileiros: a falta de entrosamento entre a União, os estados e os municípios. Além disso, muitos dilemas vividos por Cubatão envolvem toda a Baixada Santista. “Acredito que 40% de nossos problemas necessitam de ajuda de nossos vizinhos, assim como do governo federal e estadual. Os outros 50, 60% a gente vai tocando o barco”, afirma o vice-prefeito de Cubatão, Raimundo Valter Pinheiro Lima.
Debate é o que parece não faltar na cidade que, em média, 2 pessoas por dia são mordidas nas ruas por cachorros abandonados. Talvez os mais velhos preferissem imaginar uma Cubatão como Afonso Schmidt descreveu um dia:

"Minha terra não passa de uma estrada,
um bambual que rumoreja ao vento;
Sol de fogo em areia prateada,
Deslumbramento e mais deslumbramento.
Ao fundo, a Serra. Pinceladas frouxas
De ouro e tristeza em fundo azul. Aquelas
Manchas que são jacatirões - as roxas,
E aleluias - as manchas amarelas.
A minha terra, quando a vejo escampa
Cheia de sol e de visões amigas,
Lembra-me o cromo que enfeitava a tampa
De uma caixa de goma, das antigas...

Sobre a Agenda 21 de Cubatão
O lançamento da Agenda 21 aconteceu em 19 de maio de 2005. Batizado de Cubatão 2020, A Cidade que Queremos – Agenda 21, o projeto tem como objetivo envolver toda a comunidade no planejamento do município, promovendo o desenvolvimento sustentável, o que engloba as questões ambientais, culturais, sociais e econômicas.
A elaboração da Agenda 21 em Cubatão é uma iniciativa das empresas do Pólo Industrial de Cubatão, representadas pelo Cide, Fiesp e Ciesp, em parceria com a Prefeitura e a Câmara de Cubatão. Em novembro do ano passado, o projeto chegou ao final da primeira fase, com a entrega do diagnóstico Como Está Cubatão a toda a comunidade. Para a elaboração do documento foram realizadas cerca de 70 reuniões entre os 16 coordenadores e 150 debatedores temáticos.
Neste 2º Seminário Temático, que acontece entre abril e maio, serão debatidos pela comunidade os projetos e ações para construção de um futuro melhor. Após a realização do Seminário, todo o material será preparado para tornar-se um livro. A previsão é que o projeto seja finalizado em agosto de 2006.

3 comentários:

Rafael Motta disse...

Olá, Nakajima! Ainda falam em "Cubatão 2020" como se fosse daqui a meio século. Em 20 anos, estaremos na Zanzalá (ou não). Outra coincidência: hoje, na seção "A Tribuna nos anos 1960", o destaque é para a elaboração, em 1968, de um Plano Diretor para a cidade. Entre as metas, acabar com a favelização — que ironia. Parabéns e bem-vindo à blogosfera.

Lidia Maria de Melo disse...

Parabéns pela iniciativa de fazer um blog e pela análise sobre Cubatão.
A história do destino da aliança de seu Luís me fez rir.
Gostei.
Beijo.
Lídia

musicalmania disse...

Parabens, Naka!
O texto de Cubatão prova que vc é jornalista, de fato. E que os críticos de plantão estavam bem errados ao seu repeito no passado.
Muito boa a iniciativa e muita sorte nessa nova empreitada!